Sigmund Freud não acreditava que as peças assinadas por William Shakespeare haviam realmente sido escritas pelo autor de peças de teatro britânico que levava este nome. Assim como ele, uma forte cultura questionadora se mantém forte até os dias de hoje duvidando da autoria de obras como "Hamlet" e "Romeu e Julieta". Esta interrogação não procede, segundo dois dos mais proeminentes pesquisadores sobre a vida e obra de Shakespeare, e o questionamento diz mais sobre a cultura de "teorias da conspiração" de que realmente sobre a obra do escritor, segundo o norte-americano James Shapiro, autor de "Quem Escreveu Shakespeare?".
Shapiro participou da mesa “O mundo de Shakespeare” ao lado do acadêmico Stephen Greenblatt na manhã desta sexta-feira (6) na Festa Literária Internacional de Paraty(Flip). Ao longo do debate, os dois defenderam que a genialidade do escritor e a sua obra não precisam ser justificadas por mitologias associadas a seu nome.
O G1 transmitirá ao vivo todas as mesas da Flip 2012, tanto com áudio traduzido (se a palestra não for em português) quanto com áudio original. Clique nos links durante os horários da programação.
"Sabemos que William Shakespeare, de Stratfort Upon Avon, escreveu as peças" assinadas com seu nome, disse Shapiro. o pesquisador disse ficar frustrado com a quantidade de vezes que teve que responder a perguntas relacionadas à real autoria das obras de Shakespeare, mas que isso acabou servindo de combustível para seu livro.
"Comecei a pensar o que estava por tras desse questionamento", disse. "Isso abre debates fascinantes sobre o que significa viver em uma cultura em que teorias da conspiração sao tão fortes."
Segundo Greenblatt, é preciso ressaltar que existe muita documentação que comprova a vida e a obra do dramaturgo. "Shakespeare viveu muito tempo atrás, mesmo assim, há muitos documentos sobre ele. Ele nao é uma figura mítica", disse.
Colaborações e colagens
Shapiro e Greenblat admitiram, entretanto, que a obra de Shakespeare pode ser vista como "colaborativa". O escritor costumava se apropriar e reescrever histórias previamente publicadas, criando novas versões em que sua genialidade ficava exposta, explicaram. Os acadêmicos ressaltaram, entretanto, que o procedimento era comum na época.
"Quase todos os trabalhos dele foram baseados em outros autores, reciclando material de outras pessoas", disse Greenblatt. "O talento de Shakespeare estava em identificar e transmitir as histórias. É por isso que, no Brasil ou em qualquer outro país, sentimos a força dele nas traduções, sem soar artificial."
A Flip 2012 começou na quarta-feira (4) e até o domingo (8) terá apresentação de nomes como Ian McEwan, Jonathan Franzen e Jennifer Egan. Em sua décima edição, a festa homenageia Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que completaria 110 anos em 31 de outubro.
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