A determinação da funcionária pública federal Ligia Cristina Mello Monteiro, moradora do Rio de Janeiro, em garantir a possibilidade de o pai ressuscitar no futuro resultou em um dos casos mais curiosos da Justiça brasileira. Nesta entrevista, concedida por telefone a ZH, ela explica as razões do empenho em enviar o corpo do idoso para os Estados Unidos:
Zero Hora — Por que quer tanto congelar o seu pai?
Ligia — Tenho um sonho de, para ser bem sincera, ele ressuscitar. É uma possibilidade, não é uma certeza, mas uma probabilidade que, por menor que seja, existe. Com um corpo enterrado, a única certeza que se tem é que não é possível, porque vira pó. Se houver, daqui a algumas décadas a possibilidade de ressuscitar um corpo, só vai poder ressuscitar aqueles que estiverem intactos. Então, é um sonho, um ideal. Estou fazendo de tudo para lutar porque era uma vontade do meu pai e eu tenho essa esperança, realmente. Só fico triste que o caso tenha tomado a proporção que tomou.
ZH — Como a repercussão do caso afetou o dia a dia?
Ligia — Me afetou totalmente...estou aqui o dia inteiro atendendo telefonema de TV, rádio, jornal. Realmente, está difícil. Além da perda do meu pai, que era tudo para mim, foi meu pai, meu professor, irmão, avó, foi tudo para mim. Minha vida toda fomos só eu e ele, porque minha mãe faleceu quando eu tinha só sete anos. Além dessa perda, estou enfrentando essa luta judicial ainda.
ZH — Uma das questões discutidas na Justiça é se ele teria manifestado em vida a vontade de ser congelado. Como ele manifestou?
Ligia — Meu pai, apesar da idade, tinha 83 anos, sempre teve muita vontade de viver. O assunto morte era sempre delicado. Lutou até o último segundo de vida, tomava os remédios direitinho, ia ao médico, tinha muita vontade de viver. Então essa é uma possibilidade de um dia, quem sabe, voltar a viver.
ZH — Mas ele deixou claro que queria isso?
Ligia — Sim, inclusive eu trazia para ele impressos da internet sobre o assunto (preservação criogênica). Ele lia, a gente discutia. Só que, infelizmente, as minhas duas meias-irmãs, que já não conviviam mais com ele, estão pedindo agora para que ele seja enterrado ao lado da mulher da qual ele se divorciou. Ou seja, não quis viver com ela em vida, o que dirá do descanso eterno.
ZH — A intenção de enviar o corpo do seu pai aos Estados Unidos para esse procedimento não provocou estranhamento entre amigos e parentes?
Ligia — Muitas pessoas não entendem. Muitas também entendem, acham bonita a luta, mas não acreditam. Entendem a luta de querer fazer a vontade dele (pai) prevalecer. Isso todos entendem e me elogiam. Mas muitos não acreditam que um dia a ciência alcance esse ponto.
ZH — A senhora acredita que ainda seria possível fazer o congelamento do corpo com condições mínimas, já que se passou bastante tempo desde o falecimento?
Ligia — Sim, estamos seguindo exatamente o que o Cryonics Institute indicou, que é a preservação em gelo seco.
Fonte: ZH Clic RBS
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