Um estudo brasileiro, recentemente publicado na revista científica Clinics e divulgado pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool , investigou os padrões de consumo e diferenças entre gêneros em relação aos problemas relacionados ao uso do álcool.
O estudo em questão analisou os dados do São Paulo Catchment Area Study – pesquisa que é parte de um consórcio mundial coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – e verificou o comportamento de 1.464 indivíduos adultos que residem próximo ao Hospital das Clínicas de São Paulo.
Foram avaliados, no período de 12 meses, a prevalência e os correlatos sociodemográficos (gênero, idade, nível educacional, entre outros) para os diferentes padrões de consumo do álcool, que foram categorizados em: uso não pesado (consumo de pelo menos 12 doses, sem nunca ter feito uso pesado), uso pesado episódico (cinco ou mais doses em uma única ocasião para homens e quatro ou mais para mulheres), uso pesado e frequente (uso pesado do álcool ao menos três vezes na semana) e abstêmios (menos de 12 doses/ano).
Os resultados apontam que aproximadamente 22% dos entrevistados (32,4% das mulheres e 8,7% dos homens) são abstêmios, 60,3% são bebedores não pesados (sem diferença entre os gêneros) e 17,5% (26,3% homens e 10,9% mulheres), relataram ter feito o uso pesado e frequente de álcool.
Uma das principais descobertas do estudo foi que, embora os homens sejam duas vezes mais propensos a fazer uso pesado de álcool, houve uma convergência entre os gêneros em relação aos tipos de problemas avaliados para os padrões de uso pesado e frequente. Portanto, homens e mulheres tipicamente apresentaram a mesma proporção de problemas quando o padrão de consumo pesado do álcool estava instalado. Esses problemas incluem episódios de violência, prejuízo em atividades sociais (ex: faltas no trabalho), acidentes de trânsito, quedas, entre outros.
A ingestão de bebidas alcoólicas entre as mulheres esteve diretamente relacionada a um maior grau de instrução e melhores condições econômicas. Em contrapartida, a escolaridade foi um fator de proteção entre os homens: verificou-se que indivíduos com menores níveis educacionais possuem oito vezes mais chances de apresentar episódios de uso pesado e frequente do que os que possuem ensino superior.
Os autores da pesquisa esclarecem que com a mudança do papel da mulher na sociedade e o direcionamento para uma igualdade entre gêneros - na qual as mulheres estão investindo mais em educação, trabalhando fora de casa, adotando hábitos anteriormente vistos como masculinos e aumentando o consumo de bebidas alcoólicas -, as diferenças em relação às consequências do uso do álcool diminuem. Além disso, o aumento de consumo da bebida pelas mulheres pode estar associado ao estresse da dupla jornada de trabalho diário.
O estudo concluiu que o uso pesado e frequente de álcool está fortemente associado a problemas de diversas ordens e sugere que políticas de prevenção contemplem esse padrão de consumo, independente da idade ou gênero. Além disso, enfatiza a necessidade de desenvolver mais pesquisas - especialmente entre indivíduos que fazem uso pesado de álcool, mas não preenchem critérios para dependência.
Fonte: Diário Catarinense
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