Ela queria um ritual religioso para trazer de volta o namorado, mas virou vítima de estelionato, assalto e cárcere privado. A dona de casa, de 57 anos, teve prejuízo de quase R$ 200 mil ao cair em um golpe aplicado por sua ex-empregada doméstica e o filho dela.
O caso ocorreu na sexta-feira na Capital. Roseli Pires de Almeida, 39 anos, e Romário de Almeida Mello, 18 anos, foram autuados em flagrante por roubo e formação de quadrilha. A maior parte dos pertences levados ainda não foi recuperada.
- Era herança de família. A Roseli e o guri estavam sempre lá em casa. Como fizeram isso comigo? - indagou a vítima.
Vítima e golpista eram amigas
Dona de casa, a mulher é pensionista do marido, um tenente da Brigada Militar falecido em 2011. Mora em uma residência que herdou da mãe no Bairro Menino Deus.
No início deste ano, ela conta que iniciou um relacionamento com um homem. Porém, há três semanas, brigaram e se separaram.
Ela contou o ocorrido para Roseli, que dois anos atrás atuou em sua casa como doméstica - as duas ficaram amigas.
Roseli seria ligada a rituais religiosos e, segundo a vítima, frequentemente "recebia entidades". Prometeu trazer de volta o amado dela.
Só o bracelete custa R$ 30 mil
- Na verdade, era preparação do golpe, aplicado com o filho. Estamos tentando identificar outros comparsas, e suspeitamos que existam outras vítimas - disse o titular da 2ª DP, delegado César Carrion.
Entre as joias levadas estão um bracelete avaliado em R$ 30 mil, um anel com 21 pontos de diamante e várias correntes.
Ao menos até a noite de sexta-feira, o trabalho espiritual não havia funcionado - o ex-namorado da vítima não a havia contatado.
"Baixou uma entidade nela, eu vi"
Na DP, a vítima revelou detalhes de seu drama:
Diário Gaúcho - Como começou o contato?
Vítima - Sou viúva há um ano e me interessei por uma pessoa este ano. Mas tivemos uma briga. Aí, Roseli, que tava sempre em casa, me disse para comprar um champanhe que ela faria uma oferenda e resolveria as coisas. Baixou uma entidade nela, eu vi, e ela disse que, se não fizesse a oferenda, uma coisa ruim iria acontecer para mim e para ele. Comprei um champanhe no mercado por R$ 5. Ela não aceitou.
Diário - Como assim?
Vítima - Ela disse que eu teria de participar. Lá pelas 21h de quinta, passou em casa com uma amiga. Fui com elas até uma praça no Bairro Cristal, onde ela derramou a bebida. Fomos, então, para a casa dela, ali perto. Tomamos duas cervejas. Aí eu apaguei, desmaiei. Tenho certeza que colocaram alguma coisa na bebida. Acordei com a chegada da polícia, quando entraram no quarto. Eu estava só de meia-calça, alguém tirou minha calça e até colocou uma meiazinha nos meus pés. Não lembro nem como fui parar lá.
Diário - E depois, o que ocorreu?
Vítima - Tá na cara: quando adormeci, o guri da Roseli pegou a chave da minha bolsa e foi até a casa com dois bandidos. As coisas que estavam no cofre nem eram minhas ainda, é uma herança de família. São muito antigas e caras, eram muitas joias. Não sei ainda o que fazer. Não dá para acreditar que fizeram isso.
Filha reconheceu voz
Roseli e uma amiga passaram na casa da vítima na noite de quinta. De táxi, as três foram ao Bairro Cristal, onde fizerem rápido ritual numa praça. Depois, foram à casa de Roseli, a poucas quadras, na Rua da Divisa. Lá, teriam consumido cervejas.
- Possivelmente a vítima ingeriu a droga conhecida como "Boa Noite, Cinderela" e adormeceu. Então, pegaram as chaves da casa dela - revelou o delegado.
Na madrugada de sexta, Romário e dois comparsas foram até o Menino Deus. Em princípio, pensavam em furtar. Só não contavam que a filha da dona da casa, de 30 anos, estaria no local com a filha, de cinco anos. Ela foi rendida, amarrada e trancada no banheiro pelo trio, que usava máscaras.
Quando conseguiu se soltar, a mulher acionou o 190. Foi levada por uma viatura da Brigada à DP.
- Ela disse que achou a voz de um deles parecida com a do filho da ex-empregada. Ao chegamos lá, vimos o rapaz na cama e, na mão direita dele, um anel da vítima. Outras joias e dinheiro estavam ao lado - resumiu o delegado.
História mal contada
Em depoimento, Romário disse que conheceu os dois comparsas em um baile funk dias antes. Contou sobre a chance de roubar joias, e a dupla conseguiu uma arma e máscaras.
Após o assalto, os três teriam ido até o Túnel da Conceição. Na versão do rapaz, a dupla levou as joias e, meia hora depois, ele obteve R$ 1,3 mil.
- Parece uma história muito mal contada. Estamos investigando - disse o delegado.
O dinheiro foi apreendido, assim como seis relógios, seis celulares, dois aparelhos de som e outros pertences. Um dos telefones havia sido furtado, horas antes, de uma funcionária de um shopping da Capital.
O rapaz alegou ser usuário de maconha. Ele já tinha antecedentes policiais por porte de arma.
Fonte: Diário Gaúcho
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