Munidos de luvas, máscaras, seringas, botas e outros apetrechos necessários para uma investigação científica, estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) saem semanalmente a campo em busca de animais vivos ou mortos no litoral gaúcho. O caminho já foi mapeado, dividido por municípios e medido. São 120 quilômetros entre as praias de Quintão e Torres.
Zero Hora embarcou com os estudantes que fazem parte da equipe do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars). Desde 1991, o grupo realiza os monitoramentos na orla para descobrir e entender a rotina dos animais que a povoam.
Neste ano, durante os meses mais frios, o trabalho foi intensificado. De junho a setembro, pinguins, lobos-marinhos e baleias costumam visitar as águas salgadas do Estado. Os motivos vão de águas menos frias, para se reproduzir, à incansável busca por alimento.
Menos de um minuto depois de passar pela plataforma de Tramandaí, ponto de partida do monitoramento, a equipe formada pelo veterinário Derek Blaese de Amorim, 29 anos, e pelos futuros biólogos Pedro Ivo Figueiredo, 23 anos, Gabrieli da Silva Afonso, 21 anos, e Priscila Moraes da Silva, 23 anos, começa uma cena que vai se repetir por quase uma centena de vezes ao longo das seis horas de percurso.
Com olhar apurado, eles avistam o primeiro dos cerca de 90 pinguins-de-magalhães encontrados mortos. Debilitados, alguns animais mais novos não resistem à longa viagem e acabam formando um cemitério a céu aberto nas praias.
Neste ano, o maior registro de pinguins mortos no litoral gaúcho ocorreu há pouco mais de duas semanas, quando 512 animais foram encontrados entre as plataformas de Tramandaí e Cidreira. O laudo oficial ainda não foi concluído, mas, por não ter marcas de óleo ou de agressões, acredita-se que o bando tenha enfrentado alguma mudança climática.
A ideia é não mudar a rotina dos animais
Quando as carcaças de pinguins e lobos-marinhos não estão em estado avançado de decomposição, o grupo as remove para que seja feita a identificação da causa da morte, por meio da necropsia.
Nos casos em que não são aproveitáveis cientificamente, os restos mortais dos animais são marcados com spray para acompanhamento fotográfico nos próximos monitoramentos. Gabrieli explica que o recolhimento dos animais é de responsabilidade dos municípios, mas que não há necessidade de ser realizado:
— Eles retiram por uma questão estética, porque não tem problema deixar. Inclusive, vai servir de alimento para outros animais.
Com as praias quase desertas de pessoas, o litoral gaúcho ganha vida com visitantes um tanto exóticos para olhos menos acostumados. Atrás da arrebentação das ondas, a cerca de cem metros da faixa de areia, um grupo de botos pode ser avistado. Cerca de duas horas depois, dois simpáticos lobos-marinhos, de menos de dois anos, são encontrados a poucos metros de distância um do outro.
Eles atraem moradores curiosos. Após passarem por um rápido check-up, eles são liberados com anilhas de identificação para serem acompanhados pelo veterinário Derek Blaese de Amorim, que tem como tese de mestrado a descoberta da causa da morte dos lobos-marinhos.
Quando o animal apresenta algum corte ou lesão, é recolhido para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres e Marinhos (Ceram), em Imbé. Em seis horas de viagem e cerca de 50 quilômetros percorridos, um dos três lobos-marinhos encontrados na orla precisou de ajuda médica.
— Tentamos não interferir na rotina deles. Os moradores acham que sempre precisa recolher o animal, mas se retirarmos um bicho saudável para o centro de reabilitação será como levá-lo ao hospital sem precisar — explica Amorim.
Fonte: ZH
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