Organizado pela Associação de Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), um semináriorealizado no Presídio Central de Porto Alegre teve na manhã desta quinta-feira um momento diferenciado. É que quatro presidiários com longas penas foram escolhidos pelos próprios companheiros para relatar seu cotidiano. O depoimento de um deles, o ex-PM Jorge Gomes, provocou lágrimas no juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC), Sidinei Brzuska.
— Se 10% do que está previsto na Lei de Execuções Penais (LEP) fosse cumprido, nós viveríamos em boas condições. Mas a lei é como o livro Pequeno Príncipe, uma boa fantasia — resumiu Gomes, antes de enumerar problemas vivenciados pelos detentos.
Entre as queixas de Gomes, que cumpre pena por homicídios e assaltos, está a falta de oportunidade para que os presos estudem além do Ensino Médio, a dificuldade de conseguir reinserção após sair da cadeia e a própria vivência diária no presídio.
— Os ratos daqui são maiores que muitos cachorros que vocês criam em casa — provocou, despertando risos na plateia.
O preso Vinícius Marques, representante de outra galeria do Central, afirmou que as queimas de colchões que ocorrem vez que outra não são baderna, mas um pedido de socorro dos detentos à sociedade, que decidiu "varre-los, como faz com os dejetos".
— Qualquer progressão de regime, para sair de um prédio fechado para o semiaberto, leva mais de ano na espera. Mas é nosso direito receber esse benefício da lei, por que demora tanto? — questiona.
Após os depoimentos, autoridades e a imprensa foram levadas pela direção do Presídio Central para um passeio nos pavilhões. O seminário "O Presídio Central e a realidade prisional: quantos presos queremos ter" transcorre até o final da quinta-feira.
Fonte: Pioneiro
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