O Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estará reunido na sexta-feira para discutir a prorrogação das cotas sociais e raciais da universidade por mais dez anos. Decidirá sobre um sistema que, segundo levantamento de uma comissão da própria federal, não foi suficiente para garantir grau semelhante de aprendizagem entre todos os estudantes.
A conclusão se refere à comparação entre três faixas de universitários: autodeclarados negros vindos de escolas públicas, não cotistas e outros alunos de instituições públicas. Conforme um índice que avalia a possibilidade de conclusão do curso no tempo máximo permitido, quem entrou na UFRGS em 2008, sem cotas, tem desempenho geral parecido com aqueles vindos de escolas públicas e que não se autodeclararam negros. Os autodeclarados negros, revela o estudo, têm maior dificuldade de acompanhamento dos cursos e apresentam maior taxa de evasão.
O resultados do levantamento podem levar o Consun a aprovar amanhã a criação de uma coordenadoria específica para acompanhamento pedagógico e psicológico de cotistas. Seria um órgão multidisciplinar, voltado para traçar um perfil mais amplo dos estudantes. O documento da comissão da UFRGS, composta por oito membros, reconhece a necessidade de "investir mais esforços no acompanhamento" dos cotistas autodeclarados negros. Sustenta que fatores não abordados na análise, como currículo dos cursos, turnos de ensino e renda familiar, entre outros, influenciariam na trajetória na universidade.
Para Gregório Grisa, integrante da Comissão de Avaliação da Política de Ações Afirmativas da UFRGS, o perfil dos cotistas autodeclarados negros ajuda a explicar a distância para os outros grupos. Segundo ele, trata-se de um contingente onde há mais alunos com emprego e matriculados em cursos noturnos.
— O desafio é oferecer uma trajetória universitária mais próxima da adequada — afirma.
Grisa comemora os resultados da política de cotas, responsável direta pelo aumento do número de estudantes autodeclarados negros vindos de escola pública — de 7% para 11%, no intervalo entre 2007 e 2011. Vê o sistema ainda em "estado germinal" na universidade, mas a prática também é condenada. De acordo com Wanda Siqueira, advogada especialista em direitos estudantis, há um desvirtuamento na política de cotas. Ela contesta, por exemplo, o desempenho semelhante entre cotistas de escolas públicas e não-cotistas.
— Se não houver diferença, então não precisa haver reserva de vagas. A universidade está mais preocupada com o ingresso, e não com a saída do aluno. O modelo tem que ser redesenhado — diz.
Além de definir a prorrogação das cotas por mais 10 anos, a Consun também decidirá amanhã sobre a ampliação da reserva de vagas de 30% para 40%. Outros pontos em discussão são a exclusão das cotas para quem já concluiu curso superior ou tenha estudado em colégios militares.
Fonte: ZH
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