“Toda história possui um outro lado”, disseScott Cleland no início de sua palestra durante o lançamento do livro “Busque e Destrua” pela Matrix Editora no Brasil, no qual faz críticas ferrenhas ao Google, chamando a empresa de mentirosa e afirmando que a companhia trata os usuários “como animais de laboratório”, conforme atesta a primeira frase do sétimo capítulo do volume.
Analista independente e presidente da Precursor LLC, empresa de consultoria de pesquisa da Fortune 500, Scott é dito como um dos grandes (se não o maior) críticos do Google. Cleland trabalhou como assessor do Departamento de Estado dos EUA para Políticas de Informações e Comunicação durante o governo de Bush pai e já testemunhou três vezes no Congresso norte-americano contra a companhia de Mountain View.
A obra promete que mostrar o outro lado do Google, além da faceta encantadora exibida pela companhia de mote "não seja mal" ('don't be evil', em inglês), que oferece produtos e serviços gratuitos e, de acordo com ele, faz o papel de bonzinho ao defender a liberdade na Internet. "O Google é uma das organizações mais poderosas do mundo. Como [a empresa] se apresenta não é o Google de verdade - ‘somos éticos, somos corretos’, e isso inspira confiança. Se isso fosse verdade, não teria escrito o livro”, aponta.
Tiranossauro em pele de cordeiro
Diante da plateia da livraria na qual foi realizado o lançamento, o especialista revelou que, a seu ver, a companhia é muito mais do que a metáfora do lobo em pele de cordeiro; é um tiranossauro na pele de um, imagem que, de fato, ilustra a capa do livro. Scott explicou que os fundadores da empresa construíram o esqueleto de T-Rex em escala real na matriz da empresa, que se tornou o mascote não-oficial do Google, apelidado de Stan. “Por que uma companhia escolheria um temido e destrutivo predador como mascote, para inspirar seus funcionários?”, questiona.
Para o autor, os motivos pelos quais não se pode confiar no Google giram em torno do fato de que a companhia “desrespeita a privacidade, as pessoas e a lei”. Como exemplo, o escritor lembrou-se do caso quando a gigante foi condenada a pagar 500 milhões de dólares ao governo dos EUA por permitir que empresas anunciassem medicamentos para clientes americanos, provocando uma importação ilegal de drogas controladas para o país. “Eles sabiam disso, o CEO sabia disso e, mesmo assim, eles continuaram”, acusa.
Cleland parece uma metralhadora giratória ao dissertar sobre o Google - passou pelasinvestigações antitruste na Europa e nos EUA e monopólio das pesquisas (o expert afirmou que a empresa possui 93% de parcela de mercado de buscas no Brasil, 82% do mercado global de buscas e 92% de presença nas buscas em dispositivos móveis, conforme dados do NetMarketShare, além de 44% do mercado global de propaganda online, de acordo com o Zenith Optimedia), a missão de reunir todas as informações da web (Scott afirma que a empresa já coleta 5 petabytes de informação a cada dois dias, e que eles estão coletando e copiando esse conteúdo) e que o Google+, rede social da multinacional, é sim uma ameaça ao gigante Facebook, que se aproxima do primeiro bilhão de usuários. “O Google+ conseguiu 250 milhões de usuários em um ano. O Facebook demorou 5 anos para alcançar essa marca. O Facebook deve ter medo do Google+. O Google não tem medo do Facebook”, aposta.
Por que não podemos confiar no Google? “O Google ludibria as pessoas. Eles falam uma coisa e fazem outra. Os usuários não pagam nada, mas pagam com privacidade”, disserta, explicando que, ao mesmo tempo que não faria nada que fosse contra os interesses dos usuários, a empresa vende suas informações a anunciantes, para gerar propagandas direcionadas.
Google, o Grande Irmão
Nem o lançamento mais recente da empresa, o Google Now, escapou da análise do autor. Por causa da enorme quantidade de informações que a empresa possui sobre seus usuários (que, de acordo com ele, é guardada por uma empresa que funciona como uma “caixa-preta, com pessoas que são maníacas em proteger a própria privacidade da companhia”), o serviço poderá nos sugerir para onde devemos ir, com quem podemos nos encontrar, em que lugar poderemos comer. Ao mesmo tempo, “por causa de todos esses dados, ele não poderia dizer ‘você deveria votar no candidato A’ ou, ao passar por um edifício religioso, dizer ‘talvez você devesse entrar aí'"? Nesse ponto, Cleveland compara o Google Now ao Grande Irmão da obra “1984” de George Orwell, como uma entidade que sabe especificamente tudo sobre as pessoas. “O Google acredita que nasce um idiota a cada minuto”, dispara.
Mesmo assim, o especialista garante que não é contra o Google, e que simplesmente deseja que, a seu ver, a empresa deixe de burlar a lei, e beneficiar seus próprios produtos em seu buscador, prática anticoncorrencial que permite que, de acordo com ele, empresas possam desaparecer do ranking de busca sem saberem por que, já que a companhia não detalha como funciona o algoritmo que decide as posições no buscador.
Perguntado se possuía uma conta no Gmail, Scott Cleland negou, e, em seguida, explicou a razão pela qual não utiliza o serviço de e-mails da companhia. “Se estou doente e você é meu amigo, envio um e-mail a você contando sobre o assunto. Tempo depois, começam a aparecer anúncios direcionados sobre medicamentos e tratamentos para minha doença. Mas eu contei isso para o meu amigo, e não para o Google!”, conclui.
Fonte: IDG Now Uol
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