Clarice, os pais e as duas irmãs, judeus, vieram ao Brasil escapando da miséria e de um pogrom na Ucrânia. Sua mãe havia sido estuprada pelos russos. Seu avô, assassinado. Os Lispector moraram primeiro em Maceió, a partir de 1922. Depois, Recife e Rio de Janeiro.
A escrita começou cedo: "Antes dos sete anos eu já fabulava, inventei uma história que não acabava nunca", disse uma vez a autora, que depois cursou Direito e passou 15 anos no exterior como mulher de um diplomata. Quando separou do marido, trouxe os dois filhos para o Rio. Sobreviveu escrevendo para jornais. Assinou colunas femininas, recentemente compiladas nos livros Minhas Queridas e Clarice só para Mulheres. Inspirada por um dos filhos, começou a escrever livros infantis. Paralelamente, publicava coletâneas de contos como Laços de Família (1960) e romances como A Paixão Segundo G.H. (1964) e Água Viva (1973). Sempre escrevendo "com amor e atenção e ternura e dor e pesquisa".
Dependente de soníferos e antidepressivos, Clarice tinha longo histórico psiquiátrico. Aos 45 anos, escapou de um incêndio no seu apartamento. Aos 57, morreu de câncer.
"Meus livros felizmente não são superlotados de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo", afirmou a escritora, que em muitas ocasiões mostrou seu desprezo por acontecimentos. "Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável". Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal".
Não à toa, Clarice Lispector ganhou fama de ser enigmática, o que ela mesmo reforçou. Relembrando uma passagem pelos desertos egípcios, a escritora disse ter olhado fixo para ninguém menos que a esfinge: "Eu não decifrei ela", disse Clarice, mas com um acréscimo: "Tampouco ela me decifrou".
Fonte: ZH
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