Dois médicos, enfermeiras e auxiliares do Hospital Municipal de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, começarão a ser ouvidos na próxima semana sobre o caso da idosa que teve aperna errada operada. Nesta quinta-feira, os filhos da aposentada Maria Nunes da Silva, 87 anos, prestarão depoimento na 1ª Delegacia da Polícia Civil da cidade.
A indignação da família da idosa é compartilhada por outras no Estado. Neste ano, o Conselho Regional de Medicina (Cremers) abriu 228 sindicâncias para apurar supostos casos de falhas no atendimento. A quantidade de reclamações contrasta com a de profissionais punidos. Desde 1995, apenas seis médicos receberam a mais rigorosa das punições, a cassação do registro.
Neste ano, nenhum médico teve censura ou suspensão, as duas outras formas de punições públicas. A maioria das queixas diz respeito a pessoas que acreditam ter sido vítimas de um erro durante o tratamento e fizeram queixas ao órgão. Os casos em que isso pode acontecer estão em discussão no Conselho.
O Cremers não divulga quantos são, mas afirma que o número é "quase insignificante". De acordo com o presidente da entidade, Rogério de Aguiar, a maioria das sindicâncias abertas sequer se transforma em processos éticos contra os profissionais.
— Durante a sindicância, o objetivo é saber se existem indícios fortes de erro médico. Caso haja, só então é aberto o processo disciplinar. Na grande maioria das vezes, o caso é encerrado por falta de documentação ou inconsistência na denúncia — afirma Aguiar.
As queixas vão desde uma prescrição com a qual o paciente não concordou até mortes que, desconfiam os familiares, ocorreram por negligência médica.
Números
52,1% é o aumento do número de processos por negligência médica registrado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2011, na comparação com o ano anterior.
"Não existe corporativismo"
Acompanhando o início da sindicância que apura o erro médico ocorrido no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, o presidente do Cremers, Rogério de Aguiar, conversou, por telefone, com Zero Hora na tarde de ontem.
Zero Hora — O senhor concorda com a decisão de não afastar os profissionais envolvidos?
Rogério de Aguiar — Essa é uma situação que tem de ser definida pelo hospital. A questão é que não existe nenhuma condenação, nem do Cremers, nem da Justiça. Neste caso, acredito que não se pode afastar os profissionais, mas essa é um decisão do hospital.
ZH — O Cremers recebe uma grande quantidade de queixas, mas poucos profissionais são punidos. Existe algum tipo de proteção aos médicos nesses casos por parte do órgão?
Aguiar — Muito se fala sobre o fato de que a própria corporação julga os colegas. No entanto, a postura do conselho tem sido a mais ética e correta. Tudo o que nos chega é avaliado. Nossa postura é rigorosa, mas ser rigoroso implica que, no caso de uma condenação, ela precisa ser bem fundamentada.
O caso de Maria
— Em 23 de junho, Maria Nunes da Silva, 87 anos, quebrou o fêmur da perna esquerda após um acidente doméstico
— Ela esperou durante 13 dias por uma cirurgia para reconstruir o osso
— Na sexta-feira passada, uma equipe realizou a intervenção. Após a cirurgia, os familiares notaram que o procedimento havia sido feito na perna errada, a direita
— No sábado, uma nova operação foi realizada na perna fraturada
— O Hospital Municipal de Novo Hamburgo admitiu o erro
Fonte: Diário de Santa Maria
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