A proposta do governo uruguaio de estatizar a venda de maconha já preocupa autoridades do lado brasileiro da fronteira. O projeto foi divulgado na quarta-feira, 20, pelo governo de José Mujica como parte de um pacote de 16 ações de segurança pública e depende de aprovação do parlamento uruguaio. Mas já repercutiu em cidades como Chuí, Santana do Livramento e Quaraí, no Rio Grande do Sul, separadas das uruguaias Chuy, Rivera e Artigas por apenas uma rua.
Em Santana do Livramento, município mais populoso da região, com 82 mil habitantes, o assunto pautou as rodas de conversa durante a fria e cinzenta quinta-feira. Acostumados à chegada de ônibus de excursão lotados de turistas mobilizados pelas compras nos free shops existentes em Rivera, os santanenses imaginam, em tom de piada, que no futuro receberão também “Cannabis tour”, de visitantes interessados em consumir a droga no lado uruguaio da fronteira.
Revenda. Apesar da brincadeira e de restrições como venda controlada, limitada a 40 cigarros por mês exclusivamente para uruguaios, a mudança na legislação uruguaia pode repercutir no lado brasileiro, onde vivem muitas pessoas com dupla cidadania. “Em tese, um comprador regularizado pode revender parte de seus cigarros a terceiros”, comenta o delegado da Polícia Federal Alessandro Maciel Lopes. “Mas tudo depende de como o Uruguai vai operacionalizar a produção, o comércio e o controle, algo que ainda não sabemos.”
O prefeito de Santana do Livramento, Wainer Viana Machado (PSB), também se mostra preocupado com o projeto. “Como os uruguaios mesmo dizem, ‘hecha la ley, hecha la trampa’”, cita, para apontar a revenda da droga adquirida legalmente e o eventual turismo voltado ao consumo como possibilidades decorrentes da legalização da venda do outro lado da fronteira.
No município do Chuí, o supervisor do Gabinete de Gestão Integrada da prefeitura, João Luiz Cardoso de Oliveira, demonstra inquietações semelhantes. “Não sei se é indicado fazer esse tipo de liberação”, admite. “Devemos, é claro, respeitar decisões de um país vizinho, mas temos algumas preocupações diante do projeto.”
Fonte: EdgarLisboa.com.br
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