A revoada de urubus no entorno do aterro sanitário do Bairro Rio Pequeno, em Camboriú, é apenas um dos aspectos que levaram o local a um título pouco honroso: um dos piores depósitos de lixo de Santa Catarina. A avaliação é do Ministério Público, que visitou e coletou dados dos 36 aterros espalhados pelo Estado. Além da presença excessiva de animais, o tratamento incorreto dos efluentes e a proximidade de rios e do lençol freático expõem o meio ambiente à poluição e colocam em risco a saúde dos moradores. A prefeitura pretende resolver o problema através da renovação dos métodos de tratamento do aterro ou da busca de um novo local para tratar o lixo _ soluções que, apesar da urgência, só devem ser aplicadas a partir do ano que vem.
O aterro, que já é alvo de uma ação civil pública, sequer possui licença ambiental, e tem operado mediante uma liminar concedida pela Justiça. Márcio Rosa, secretário de Agricultura e Meio Ambiente, diz que a falta de licenciamento e as irregularidades apontadas pelo Ministério Público são consequências do tratamento desatualizado do aterro:
- O tratamento não está de acordo com a nova legislação. Já fizemos uma audiência pública sobre a mudança de tecnologia do aterro. Vamos fazer projetos e licenciar.
Por enquanto não há previsão de quanto a alteração vai custar, de onde virá o recurso ou se esta será mesmo a opção mais viável. As 50 toneladas de lixo que são depositadas no Rio Pequeno todos os dias passam por tratamento com micro-organismos, que auxiliam na decomposição. Segundo Rosa, a intenção é, caso se prove a viabilidade de manter o aterro, passar a utilizá-lo no sistema de pirólise, com a queima de resíduos.
- Ou fazemos isto ou mandamos o lixo para outro local. Só ainda não sabemos para onde _ diz Rosa.
Especialista avalia riscos para população
Embora a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Camboriú insista que as deficiências do aterro não causam poluição do solo e da água, a possibilidade de que isto de fato ocorra não está descartada. Leonardo Rorig, pós-doutor em Ecologia e Recursos Naturais, diz que o resíduo resultante do lixo, que leva o nome de chorume, está entre as substâncias mais poluentes e tóxicas que existem - e é justamente o que, segundo o Ministério Público, não tem sido tratado adequadamente em Camboriú.
- O chorume equivale aos piores efluentes industriais e se for parar na água, coloca em risco a população - alerta Rorig.
Micropoluentes como metais pesados não são retirados da água com tratamentos convencionais, explica o especialista - o que pode, a longo prazo, causar doenças degenerativas ou câncer em quem ingere a água contaminada.
A preocupação atinge moradores próximos do aterro.
- Por aqui há várias fontes de água mineral, mas hoje ninguém pode explorar por causa do lixão _ diz Osni Morais, 55 anos.
Sete municípios têm aterros inadequados
A avaliação dos aterros sanitários foi feita pelo Ministério Público em parceria com a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e faz parte do Programa Lixo Nosso de Cada Dia, desenvolvido desde 2001 com o objetivo de regularizar a destinação dos resíduos sólidos no Estado. Os aterros foram divididos entre condições mínimas, adequadas ou ótimas, dependendo das irregularidades encontradas. A análise também levou em conta o recolhimento e destinação do lixo reciclável, em todos os municípios catarinenses.
O depósito de Camboriú ficou entre os de condições mínimas de funcionamento, junto com Fraiburgo, Irineópolis, Porto União, São João Batista, Sul Brasil e Timbó _ 19% de todos os aterros avaliados. Camboriú, porém, possui um volume maior de irregularidades. São oito no total.
O aterro sanitário de Itajaí, também avaliado pelo MP, ficou entre os de melhor colocação, considerado de condições ótimas.
Fonte: A Notícia
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