Sinto informá-los, mas Amy Winehouse não esteve em Florianópolis. Quem passou pelo Brasil em 2011 foi uma caricatura absorta em um ensaio de uma volta que se imaginava triunfal. E que nem pode usufruir dos R$ 15 milhões (ou 5 milhões de libras) pagos pela organização do Summer Soul Festival para a série de shows que marcaria o seu retorno aos palcos depois de Back to Black. E tudo fez sentido seis meses depois, com a confirmação da tragédia anunciada a partir do palco do Stage Music Park.Amy Winehouse já não pertencia ao nosso mundo, vivia em outra sintonia, vagando no vale das sombras, sem sentir a terra sob os pés.
Um ano da sua morte e ainda me custa desassociá-la daquela imagem caquética, martirizada pelo sucesso, a autêntica face da dor e da euforia inconsequente, que alimenta e consome os bardos do rock, salvo os lampejos de lucidez naquela noite estranha de 8 de janeiro. Não foi um show para curtir, tampouco fácil de assistir. Havia uma tensão sobre o que poderia acontecer.
No palco, Amy instalara o caos ao esculhambar todo o repertório e nas recorrentes saídas. Cada música que encerrava era seguida por euforia e alívio. Mas a voz estava impecável, vigorosa, até mesmo para balbuciar quando esquecia as letras. Uma hora e 10 minutos de show e não mais do que 20 canções depois, aquele espectro deixou o palco e partiu para o Rio, em seu quase isolamento em Santa Teresa. Amy Morreu como promessa, mas viveu como queria.
E não se façam de desavisados, pois esta jornada autodestrutiva vinha sendo decantada nota por nota, refrão por refrão. Também me poupem da tal maldição dos 27 anos. Etta James, esta sim, uma diva vida louca, morreu aos 73 anos e, até que provem o contrário, a morte não concede hora extra.
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